Resumo:
Objetivo: Analisar a produção científica brasileira acerca do papel da espiritualidade e da religiosidade no consumo nocivo de substâncias psicoativas. Materiais e Método: Revisão integrativa, realizada em fevereiro de 2019, utilizando todas as bases de dados incluídas na Biblioteca Virtual em Saúde, com o cruzamento dos descritores “Abuso de Álcool”, “Alcoolismo”, “Abuso de Drogas”, “Dependência de Drogas”, “Espiritualidade”, “Religiosidade”, “Resiliência Psicológica”, “Resiliência”, “Enfrentamento” e “Estratégias de Enfrentamento”. Incluíram-se artigos científicos publicados em português, disponíveis na íntegra eletronicamente e com acesso gratuito. Resultados: Foram selecionados 18 artigos após análise sistemática. Houve um equilíbrio entre os estudos quantitativos transversais (n=9; 50%) e os qualitativos (n=8; 44,4%), sendo um classificado como quanti-qualitativo (5,6%); a maior parte deles foi publicada em 2012 (n=3; 16,7%), realizada na região Sudeste do Brasil (n=11; 61,1%) e desenvolvida com usuários de álcool e/ou outras drogas em tratamento (n=8; 44,4%). O local de pesquisa mais recorrente foi a Comunidade Terapêutica (n=4; 22,2%). A maior parte dos estudos analisou o consumo prejudicial de álcool e outras drogas e especificou as drogas pesquisadas (n=8; 44,4%), seguido de estudos que analisaram especificamente o consumo de álcool (n=6; 33,3%). Quanto à diferenciação do conceito de espiritualidade e religiosidade, 10 (55,6%) dos artigos a levou em consideração, e 9 (50,0%) estudos diferenciaram a prática religiosa de ter uma religião. Observou-se que na maior parte dos estudos incluídos na revisão, houve influência positiva da religiosidade e/ou da espiritualidade no menor consumo de drogas. Os protestantes foram o grupo religioso que menos fez uso prejudicial de substâncias psicoativas (SPA). O uso prejudicial de álcool mostrou-se menos sensível à influência moderadora da religiosidade e da espiritualidade. Considerações Finais: Foram poucos os estudos, mostrando que as pesquisas na área são relativamente recentes e que, também, há certa negligência do reconhecimento destas dimensões humanas no cuidado aos usuários do sistema de saúde. Novos estudos, principalmente longitudinais, são essenciais, na tentativa de esclarecer quais são as variáveis da religiosidade e/ou da espiritualidade que de fato atuam como fatores de proteção e recurso de tratamento para o uso nocivo de drogas. Destaca-se a influência da família e da educação religiosa na infância como fatores protetores ao uso problemático de drogas através do desenvolvimento de uma religiosidade denominada intrínseca, que se aproximaria do conceito de espiritualidade, no sentido de ser algo do próprio sujeito, constitutivo de sua subjetividade, que atuaria de forma mais consistente e duradoura na proteção ao uso de drogas. A espiritualidade e a religiosidade são dimensões humanas que devem ser consideradas pelos profissionais da saúde, na busca da garantia do cuidado integral e do direito à saúde.