Resumo:
A concepção de teatro, inspirada nas construções de Pelbart e Boal, encontra-se neste trabalho com as ideias da clínica ampliada assumida por meio de um “ato terapêutico” como forma de desconstrução do modelo manicomial. O objetivo desse trabalho foi compreender o potencial das Oficinas de Teatro, analisando as possibilidades e os desafios de produção de espaços de invenção e experimentação, possibilitando a construção de novos cenários e papéis por meio dos processos de subjetivação. De formas mais gerais, favorecer a expressão dos afetos e pensamentos, ser veículo para a subjetividade e sociabilidade, promover o protagonismo dos usuários a partir da liberdade e autonomia. Trata-se de um estudo qualitativo que suscitou um relato de experiência das Oficinas de Teatro do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD II) de Manhuaçu, envolvendo arte e saúde mental. Os métodos e técnicas de pesquisa envolveram a observaçãoparticipante e os registros no diário de campo. As oficinas de teatro quinzenais, construídas a partir da demanda do serviço de saúde mental, se tornou instrumento de transformação da realidade e palco de sustentação das singularidades, a partir da invenção e experimentação que apostava na construção de oficinas sem técnicas prontas e formatadas, baseadas no improviso. No desenrolar das sobreposições os usuários foram revelando corpos que aclamavam por uma “a-tua-ação” mais humana. Sair dos moldes clínicos convencionais e oferecer outros espaços e formas de cuidado exige dos profissionais certa ousadia, e, capacidade para permitir que o conhecimento técnico/científico torne-se coadjuvante cedendo espaço para que o protagonismo e o saber dos usuários seja colocado em cena. Através das vivências das Oficinas de Teatro, criamos mais um espaço coletivo de expressão subjetiva e constituição terapêutica em que todos os sujeitos presentes são afetados de algum modo. Mesmo cientes das limitações metodológicas e técnicas da experiência, descobrimos que é possível criar novos espaços de expressão dentro dos serviços de saúde mental. Consideramos que as oficinas de teatro constituem-se em espaços possíveis para a experimentação, invenção e expressão dos afetos, pensamentos e ações, um palco para construções coletivas e transformações subjetivas.