Resumo:
O presente artigo trata da abordagem do adolescente usuário de álcool e drogas na Atenção Primária à Saúde (APS) a partir da constatação de que eles não acessam as Unidades Básicas de Saúde e/ou não aderem aos tratamentos propostos. A autora realizou uma revisão bibliográfica de artigos científicos publicados sobre o tema e utilizou como parâmetro para a avaliação do cuidado em saúde desse público, as diretrizes do Ministério da Saúde para a atenção dos adolescentes e jovens. Foram identificados os principais aspectos clínicos da saúde mental dos adolescentes que chegam às UBSs e as influências do discurso biotecnológico nas abordagens na atenção primária. Alguns impasses dos profissionais no acolhimento destes adolescentes, que vivem em área de grande vulnerabilidade social também foram descritos. Utilizou-se a teoria psicanalítica para ampliar a concepção sobre adolescência e para compreender como o percurso familiar e social influenciam a saúde do adolescente. Alguns dos possíveis determinantes subjetivos que levam os adolescentes ao uso de substâncias psicoativas foram apresentados, bem como os agravos para a saúde e os danos psicossociais do uso abusivo para eles. No momento da adolescência o sujeito sente-se fragilizado e, de acordo com a Psicanálise revive a sensação do desamparo primordial que cada sujeito padece na estruturação do seu psiquismo. As dificuldades dos profissionais da saúde em acolher o adolescente nas UBSs presentificam o sentimento do desamparo individual, familiar e social para eles. Conclui-se, portanto, que os aspectos étnico-sociais e o racismo podem interferir negativamente no acolhimento e vínculo com tais usuários. A falta de lugar para o adolescente nas UBSs faz com que a saúde também se torne mais um componente do desamparo para eles.