Resumo:
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade de vida dos usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), bem como os fatores a ela associados, com vistas à
verificação da existência de fatores modificáveis, passíveis de intervenção, que irão
embasar a discussão, junto aos gestores e profissionais de saúde, sobre o que é viável
construir, com os recursos disponíveis, para melhorar a qualidade de vida da população
atendida pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Foram utilizados dados
de pesquisa previamente realizada, que entrevistou usuários da atenção primária em
saúde (APS) do SUS, em Minas Gerais. Para a avaliação da qualidade de vida foi
utilizado o instrumento genérico EQ-5D. As análises descritivas foram estratificadas por
sexo. A análise dos fatores associados à qualidade de vida foi feita por meio de
regressão linear, uni e multivariada. Foram entrevistados 1.131 usuários da APS do SUS
em Minas Gerais, 900 mulheres (79,6%) e 231 homens (20,4%), com idade média de
46,23 anos. A maior parte se autodeclarou não branco e eram analfabetos ou possuíam
ensino fundamental incompleto. As mulheres, em maior proporção, pertenciam à classe
social D/E e recebiam algum tipo de auxílio do governo. Aproximadamente 70% dos
usuários declararam ter pelo menos uma doença crônica. Há alta prevalência de
hipertensão, dislipidemia e depressão. Homens, em maior proporção, apresentam
hipertensão e diabetes, enquanto as mulheres apresentam, em maior proporção, doença
pulmonar crônica, artrite, artrose, reumatismo e depressão. Na avaliação da qualidade
de vida, 24% dos entrevistados relata saúde perfeita, ou seja, nenhum problema em
nenhuma das dimensões. As mulheres, em maior proporção, relatam dor ou mal estar e
sintomas de ansiedade e/ou depressão. O escore geral de qualidade de vida foi, em
média, 0,753 (± 0,182). Ser do sexo feminino, ter tido a necessidade de procurar um
serviço de emergência no ano anterior à entrevista, ter tido alguma vez na vida o
diagnóstico de AVC, artrite, artrose, reumatismo ou depressão e estar em dieta para
redução de peso, estão associadas, de forma independente, a pior qualidade de vida. A
auto avaliação da saúde como boa ou muito boa e a prática de atividade física estão
associadas com melhor qualidade de vida. Os resultados deste estudo apontam para
algumas possibilidades de intervenções que podem melhorar a qualidade de vida dos
usuários da APS do SUS. A partir deles foi elaborado o plano de ação “Mais Qualidade
de Vida”, cuja proposta visa atender, de forma diferenciada, mulheres, no âmbito do
NASF, com a atuação conjunta de psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas e educadores físicos. Este plano de ação pretende ser uma resposta ao SUS e à sociedade,
na busca pela melhoria da qualidade de vida do grupo mais impactado por questões
econômicas, sociais e clínicas – as mulheres. As intervenções propostas e, futuramente,
seus resultados, podem abrir portas para novas formas de abordagem das pessoas, com
maior foco na prevenção de doenças, promoção da saúde e melhoria da qualidade de
vida.