Resumo:
As políticas públicas de saúde mental voltadas ao público infantojuvenil se estruturam de forma
tardia nas cidades. O Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSIJ) e o imperativo
de um trabalho intersetorial surgem para combater o vazio assistencial gerado e constituíram se como base da política de saúde mental para crianças e adolescentes no Brasil. Os CAPSIJ
dos municípios de pequeno e médio porte passam por dificuldades para se implantarem, para
se adequarem à política proposta e para se habilitarem junto ao Ministério da Saúde. A trajetória
do CAPSIJ da cidade de Mariana espelha tais dificuldades, além de enfrentar peculiaridades
durante sua trajetória de adequação e credenciamento. Esse relato de experiência tem o objetivo
de descrever as mudanças ocorridas durante a transição do serviço de um perfil ambulatorial
para um CAPSIJ. As transformações sucedidas entre os anos de 2015 e 2018 receberam maior
ênfase, pois além de considerar as adequações já iniciadas, também consideram o período
posterior ao rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, ocorrido na cidade em 2015, e
seus impactos no serviço de saúde mental infanto-juvenil. Foi utilizado um estudo documental
descritivo de dados secundários, obtidos no software da saúde da cidade de Mariana e dados de
notificações de violência da cidade e de sua microrregião de saúde. Ao longo das análises, foi
possível observar transformações motivadas por fatores internos como é ao caso das adequações
de espaço físico e da equipe e a maior participação em espaços de debates sobre políticas
públicas infantojuvenis ocorridas após a solicitação do credenciamento do serviço. Além disso,
foram encontradas mudanças provocadas por fatores externos, tais como o aumento substancial
de atendimentos no serviço e o aumento de notificações de violência na cidade após o
rompimento da barragem de Fundão. Esses dados demonstram as dificuldades e desafios
enfrentados pelos CAPSIJ para se consolidarem como pilar da política púbica de saúde mental
no Brasil.