Resumo:
Apesar da elevada cobertura pré-natal, ainda há disparidades sobre o cuidado
prestado. Nesta direção, necessita-se o fortalecimento da mudança do modelo de
assistência, do tecnocrático, para um modelo baseado em evidências científicas e
humanizado, estimulando o protagonismo da mulher, habilidades e atitudes dos
profissionais em saúde para promoção do parto e nascimento saudáveis, reduzindo a
susceptibilidade da mulher às intervenções desnecessárias. Entende-se que a
comunicação, prática social que perpassa por experimentações e vivências individuais e coletivas para construção de conhecimento, contribui à maior autonomia dos sujeitos.
Assim, há o fomento para o protagonismo das mulheres, quando a assistência é pautada
na interlocução e produção de sentidos, num processo dialógico, que quebra padrões
hegemônicos, empoderando-as em relação à saúde e seus corpos, tornando-as menos
vulneráveis. A Caderneta da Gestante fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pode
ser uma ferramenta de comunicação, capaz de potencializar o diálogo e impactar na
redução de intervenções desnecessária. O objetivo foi analisar o processo de comunicação
e saúde à gestante na perspectiva das informações ofertadas a respeito do parto e
nascimento na Caderneta da Gestante do Ministério da Saúde (4ª ed./2018),
disponibilizada pelo SUS. Trata-se de uma pesquisa documental de abordagem
qualitativa. Foram analisados conteúdos escritos e de imagem de 18 páginas do
documento, sendo como critérios de inclusão, estar diretamente ligado à preparação para
o parto e nascimento. Construiu-se dois instrumentos norteadores, que identificaram os
padrões de: linguagem, imagens/estética, formatação, nível de
compreensão/acessibilidade e outros recursos de comunicação disponíveis. Constatou-se
que a Caderneta da Gestante foi elaborada utilizando estratégias facilitadoras à
comunicação efetiva com a mulher como: linguagem clara e simples, o uso da primeira
pessoa do singular; diferentes tipografias, tamanhos de fontes e recursos gráficos; uso de
ilustrações e de cores. Tais, estratégias permitem captar a atenção e compreensão da
gestante e sua rede de apoio, inclusive os profissionais de saúde. As ilustrações estão em
harmonia com as informações textuais, embasadas nas evidências científicas, sem
qualquer distinção social e/ou econômica. Utilizou-se a Análise de Conteúdo proposta
por Bardin, por meio da qual foram identificadas cinco categorias que dão sentido e valor
de uso à Caderneta por se tratar de: uma (1) ferramenta de comunicação que permite a
participação ativa e fortalecimento do cuidado qualificado e humanizado, e um (2) espaço
para o trabalho da equipe multiprofissional nas redes de atenção, por meio de uma comunicação assíncrona interprofissional para a troca de informações; (3) veículo
de comunicação pautada em evidências científicas; (4) promotora de informações que
estimulam o protagonismo para o parto e nascimento; e (5) identidade da gestante por
meio de imagens capazes de retratar e evidenciar aspectos culturais e históricos referentes
ao quotidiano social da gestante. Conclui-se que a Caderneta da Gestante pode ser
considerada uma ferramenta de comunicação efetiva para a à participação ativa da
gestante, quando bem utilizada pelos profissionais de saúde. Elaborada para amparar
tanto o profissional, quanto à gestante, por meio de informações científicas, objetivando
o seu protagonismo no ciclo gravídico puerperal no seu atendimento pelo SUS.