Resumo:
Em meu dia-a-dia enquanto profissional de saúde, observo dificuldades das equipes em relação ao acolhimento de populações em situação de vulnerabilidade em geral, com a reprodução de violências no atendimento que são vistas como ações corriqueiras e inofensivas. Cenas recorrentes envolvem o silenciamento diante do racismo e da LGBTfobia, com descaso das demandas dessas e de outras populações. Este ensaio tem o objetivo de desvelar e discutir as situações vividas em meu cotidiano profissional e carrega algumas reflexões a respeito de como a violência institucional pode operar contra populações vulnerabilizadas no Sistema Único de Saúde. Para tal, após análise das cenas descritas, a discussão foi organizada em duas partes: 1. A culpabilização individual de populações vulnerabilizadas: “Todo mundo se organiza”. Ela também pode?, em que reflito sobre os limites do saber biomédico de trabalhadores e a importância dos determinantes sociais em saúde enquanto guias de nossa prática; e 2. Como pensar-fazer-cuidar diferente no campo de gênero, sexualidade e saúde, a partir das diversidades?, no qual trago discussões sobre a violência institucional no campo de gênero, sexualidade e saúde. Alguns dos importantes desafios que se impõem são a violência estrutural, a colonização dos saberes, a desvalorização de profissionais de saúde, a negligência dos determinantes sociais enquanto fatores condicionantes do processo saúde-doença, o desfinanciamento do SUS e os constantes ataques sofridos pela Saúde Pública. Possíveis mudanças perpassam articulações de gestão, processos educativos e políticos, que sejam capazes de descolonizar o nosso fazer em saúde.