Resumo:
A violência é um problema de saúde pública que afeta homens e mulheres de
maneiras diferentes. A violência doméstica está diretamente relacionada a questões
de gênero e enfrenta desafios quanto a abordagem por profissionais de saúde,
sendo esperado da atenção básica, devido a proximidade com a comunidade, a
atuação na identificação e acolhimento destes casos. O objetivo geral desse estudo
consiste em analisar o perfil dos casos de violência doméstica contra mulheres
residentes em Belo Horizonte, notificados de 2013 a 2017, e sua relação com o
processo de identificação dos casos pelos profissionais da Atenção Básica. Trata-se
de um estudo transversal, analítico, com abordagem quantitativa, realizado a partir
de dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN). A amostra foi composta por 3.081 casos notificados no SINAN de janeiro
de 2013 a dezembro de 2017. Para a análise comparativa do perfil da violência entre
os grupos (casos notificados pela atenção básica versus casos notificados por outro
ponto da rede de atendimento à mulher), contou-se com a utilização do software Epi
Info® 7.2.2.6 (2018), utilizando-se do teste qui-quadrado, com nível de significância
de 5%. Os dados foram avaliados, em termos de parâmetros de qualidade, em
relação a completude. Todos os preceitos éticos e legais foram respeitados. A
maioria dos casos foi notificada pela atenção secundária e terciária (61,9%) e o perfil
de mulheres predominante foi: faixa etária de 20 a 49 anos (38,8%), parda e preta
(51,4%), ensino fundamental incompleto (16,7%) e solteiras (29,9%). O tipo de
agressão sofrida por essas mulheres que sobressaiu foi a violência física (50,5%),
seguida de psicológica (32,4%) e posteriormente sexual (30,4%), prevalecendo os
casos em que os agressores eram amigos/pessoas conhecidas pela vítima (16,6%),
cônjuge (15,0%) e filhos (as) (10,3%); a maioria das agressões praticadas por
homens ou com participação de homens (65,9%) e classificadas como violência de
repetição (36,9%). Comparando as notificações realizadas na atenção básica e
outros níveis de atenção constatou-se associação estatística (p<0,05) entre: tipos de
violência física, psicológica/moral, sexual, financeira/econômico e
negligência/abandono e violência de repetição. Conclui-se que estudar o perfil
sociodemográfico de casos notificados de violência contra mulher permitiu analisar
os desafios que envolvem o processo de identificação e condução dos casos pelos
profissionais de saúde e assim, contribuir para a reflexão e proposição de
estratégias com a finalidade de obter êxito na abordagem e acolhimento realizados
na atenção básica.